sábado, 10 de dezembro de 2022

Filha por um dia

 


Dói demais. 

É como se o mundo todo se tornasse tão difícil, diferente e incoerente ao ponto de não conseguir caminhar mais com a certeza antiga. 

Era simples: eu amava do meu jeito, as coisas fluíam, e continuava. Alguns desafios, percalços, enfrentamentos, aprendizados, e continuava. Mas de repente as coisas não eram mais assim. Minha armadura não era mais tão impenetrável, minha força tão intensa, talvez minha vontade deixou de ser tão convicta. Afinal, para que tudo serve nas relações, nas famílias, na estrada da vida? 

O quanto vale priorizar algumas relações e seus preços? O quanto custa ser querida, amada e acolhida? 

Depois de tantos anos de perdas nas relações, de precisar escolher entre valores e pessoas, de olhar a mim e aos outros sem filtros, agradeço melhorias que sinto dentro de mim, mas não posso dizer que não doa muitas vezes ainda. Não consegui ainda ser um ser estelar independente, que entregou sua linhagem terrena e assumiu um posto livre no planeta. 


Somos educados a viver entre os "nossos" e a acreditar que eles sempre seriam estrutura, força e segurança. Ver que isso simplesmente não se aplica na sua jornada, que foi tudo uma grande ilusão que causou tantas feridas e crescimento, que mesmo que funcione para a maioria, não é para você... Dói. 

Mesmo que eu entenda cada passo desta desilusão, mesmo que não tenha nenhum passo que me arrependa, mesmo que sustente todas minhas falas, posturas a atitudes porque foram baseadas em verdades profundas, não posso dizer que não doa muitas vezes. 

Hoje doeu. Hoje eu quis pertencer. Hoje eu quis estar entre aqueles que teoricamente seriam minha rocha. Mas estou aqui, na ilha de Mãe Kuan Yin agradecendo sua misericórdia e compaixão. Deitei nas águas de Nanã e aceitei suas curas de lama na alma. Pedi e recebi, então agradeço, mesmo tão triste. 


Eu sei que amanhã estarei em pé, disposta a aprender o próximo passo, com a força de Miguel e El Morya, mas hoje preciso apenas do sorriso de Mãe de Kuan Yin e Nanã. Encher meu coração de filha. Sim, as vezes - muuuuuito as vezes - sou filha de alguém. 

Amanhã volto ao olhar no horizonte, buscando e alcançando, acolhendo e motivando, facilitando o outro e feliz por isso.

Hoje é dia de colo. Ainda bem que tenho, mesmo que seja tão sutil aos olhos, é potente na alma. E é a alma que sangra. 

Então está tudo certo. 

domingo, 25 de setembro de 2022

Seguindo...



Eu sigo. 

Continuo.  

Respiro, inspiro, tento soltar, e ainda assim existir. Mas mesmo assim cada dia é uma jornada imensa na direção de um reencontro. Ou renascimento, talvez.

Minha mente mantém os antigos registros de verdades, vivências, lutas e curas geradas. Infinitamente controlada por eles, se torna meu grande desafio diário. 

Que diria? Eu, a mentalmente sã, a funcional e lógica, a acertiva lúcida, dizendo que a a mente me prega peças. 

A humanidade se questionando lá fora se poderia controlar ou não uma Super Inteligência Artificial, sendo que não controla nem mesmo a própria mente... Onde está a dúvida minha Deusa? 

As "Inteligências", sejam as naturais ou artificiais, apenas armazenam o que já viram e tiram conclusões futuras baseadas em fatos passados. Apenas isso. Não há criatividade, não há revolução, não há o Novo. Não há Cura. 

Para sobreviver, me proteger, não sofrer,  alcançar metas e ser operacional e útil, deixei meu campo mental tão vasto e poderoso, que sinto tudo permeado por ele, como uma grande IA. Mas é minha. 

Ela manda. Ela reage, ela cria. Ela chegou a conclusão de que outra forma de fazer cria dor, uma após a outra, e dor cria fraqueza, frustração, tristeza... E este é um lugar muito desconfortável de estar. Neste lugar precisamos de resgate, e sinceramente... Ele pode não vir. 

Então, continue. Caminhe. Siga. Enfrente. Supere. Mantenha. 

Eu mantenho. Mas até onde? Para que mesmo? Com que norte? 

Nublado. 


O mundo mudou demais, verdades antigas foram transformadas, e nada mais pode ser visto como foi. A mente fica insegura. Afinal ela se baseia no que já viveu, e se isso não conta mais... O que conta? 

Não sei responder com certeza. Para a mente não sei. Apenas sei o que conta para a alma.

Leveza. Liberdade. É o que a alma clama sem parar, debaixo das camadas mentais duras e tão inflexíveis. A alma precisa respirar. 

A minha respira pelo som do Espírito, e quando O encontra, vê a Luz, e tudo está bem. Tento segurar a sensação o máximo que posso, mas inevitavelmente quando aterro os pés na matéria, tudo se desfaz. Volta a dureza, o foco, a desconfiança criada por tantas frustrações, abandonos e perdas, e a mente assume seu papel superprotetor. 

Uma dinâmica doente e improdutiva, tenho completa consciência disso. Mas confesso que neste limite de forças, está sendo desafiador resistir, sentir, criar ou soltar a tal dinâmica instalada. 

Meu corpo emocional se comporta como um bichinho machucado sentindo tanta dor que se  torna raivoso, afasta até a ajuda. Tudo que ele quer é não sentir mais dor. Só isso. E qualquer movimento dói ... Até o de cura.

Neste momento invoco a Grande Mãe. A mentora da Vida em Gaia, a Senhora de Todas, e nas Rodas de Irmandade eu suplico compreensão. 

Uma onda de Luz se faz, minha alma se desprende, e entro na Ilha de Mãe Kuan Yin, navegando nos mares revoltos das emoções descontroladas e intensas, e aporto na sua praia pedindo abrigo. 

Ali, todas somos recebidas. Ali, somos apenas suas Filhas. Ali, o peso pode ser deixado de lado. 


Peço para encontrar minhas fragilidades e abraçar todas elas como quem abraça uma grande irmã. Sentir que são portas do Sentir, que me dão beleza e cor mesmo na escuridão e que são meu caminho de Cura. 

Descansar. 

Apenas isso. 

O que será depois, ainda não sei, mesmo porque saber é função da mente e aqui ela não é nem ativada. 

Fluirei então, recarregando minha alma, tentando fechar minhas chagas e reencontrar meu Ser completo, com todas as suas partes. Preciso muito da Mãe. Ela me acolhe. 

Não sou apenas o que gero e ofereço, sou o que sinto e vibro, e este caminho de Consciência agora precisa ser refeito. 

Jornada. Ninguém larga a mão de ninguém. Vamos todas juntas para o reencontro com nós mesmas.  Gratidão. 

E assim é. 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

A jornada da Heroína


 Tao tão cansada. 

Mas tão tão mais sábia.

Cheguei no limite do dar. Cheguei no ponto que oferecer dói tanto que fica impossível fazer sorrindo.

Ver a dor ao meu redor, olhar o coração fechado e contorcido ao meu lado pedindo socorro sempre foi algo insuportável para vivenciar, algo impossível de ignorar. 

Sempre abri as entranhas para encontrar algo que pudesse sanar as dores que via ao meu redor. Com o tempo fiquei mestra em encontrar qual parte de mim poderia ser a doação da vez. E funcionava. 

Pedaços meus que iam sendo arrancados e oferecidos, com uma sensação incrível de satisfação pessoal e dever cumprido. Minha alma se completava em perder algo que fosse a cura do outro. Era como se o meu poder estivesse em ter algo que sanasse cada problema, ferida, expectativa, e nunca eu diria não a essa sensação de poder. 

Vasculhar meu coração, minha mente, meu espírito, e identificar o antídoto para o outro significava ter valor, ser importante, cumprir meu dever. 

De que importavam os buracos que se abriam em mim? Qual a importância do vazio que se formava ao longo do tempo que eu nunca era o foco , o propósito da vez?

O importante era o sorriso que eu criava com minha "capacidade". A gratidão, a alegria e as mudanças que iam acontecendo nas jornadas de cada pessoinha que eu tocava...isso era o alimento, a justificativa, a explicação, a razão de tudo. 

Mas fiquei para trás. Aos poucos fui ficando para trás. 

As vidas mudavam, se alavancavam, se recriavam... As pessoas renasciam em novas consciências, e era lindo. Mas eu ficava. 

Com o tempo eu não me sentia mais tão poderosa. O valor parecia não significar a mesma coisa. Meus buracos eram tão numerosos que já não podia contar, nem curar com equilíbrio. 

Eu doía. Eu chorava. 

Fiquei dura, fiquei fria, para suportar e seguir. Depois fiquei nada. Mas continuei. Sempre havia o que oferecer. 

Eu fui enquanto havia força. Eu fui enquanto havia alguma luz. Mas acabou. 

Agora tudo me parece sem sentido algum, como um livro escrito em língua que não conheço. Vejo as pessoas muito, muito melhores do que eu as encontrei, e mesmo tão feliz por elas, isso não me ancora na minha verdade mais. 


Preciso do chão, preciso dos meus pedaços infinitos de volta, preciso de mim. Mas não há pra quem gritar. Preciso chamar por mim mesma, pela minha Mestria tão perfeita em curar dores. Poderia ser a minha dor a prioridade da vez? 

Poderia eu mesma usar minha força para trazer algo que preencha este vazio, este nada, buscar luzes na escuridão, e fazer um caminho de vagalumes para minha alma caminhar? 

Poderia eu criar sorrisos dentro de mim como consigo em quem toco? Poderia eu tocar minha alma com o mesmo carinho e verdade? 

Espero que sim. 

É o que busco agora. Vejo cada um em sua estrada e vibro para que sejam felizes e prósperos, assim tenho mais calma para lutar minha batalha pessoal. A batalha de volta a mim mesma, seja eu quem eu seja, já que esqueci neste imenso tempo olhando apenas para fora. 

E sigamos mais uma vez. Que a Deusa esteja em mim.



A todas as ATHENAS incansáveis... Amor e Liberdade a vocês ❤️

sábado, 20 de novembro de 2021

O Portal Dourado


Eu estou me despedindo.

Olhei para os lados, e percebi que não haveria acenos. Somente silêncio. Sentei então por um instante, no final do caminho. A estrada terminava ali, era o último metro. Depois dela, o imenso Portal Dourado se abria, mas era um Portal sem volta. Eu tenho certeza de que, depois que o passasse, nada que eu via estaria ali para me esperar em um regresso. Não haveria regresso.
Existem viagens sem volta, e aceitar esta verdade é a única forma de continuar seguindo em frente.
Sentei na pedra mais alta, olhei o por do sol vermelho e intenso, e entendi que o dia - e uma era - acabava ali.O Silêncio é quente e doce, e as aves voam para seus ninhos depois de um dia inteiro de liberdade e busca. A brisa acaricia meu rosto e parece ter feições, parece sorrir para mim.
Acabou.
Olho para minhas mãos e não há mais nada. Tudo que carreguei foi ficando nas paradas, nas encruzilhadas, onde precisei escolher. Meus pés tocam a relva verde, macia e úmida, e sorrio para Gaia. Estou descalça, estou nua. Tudo foi ficando para trás, e aos poucos nem me lembro do que deixei.
Meus cabelos em trança formam meu véu, minha túnica, meu manto. E só.
Eu fui muitas coisas até ali.
Fui filha, fui irmã, amiga, amante, companheira, fui mãe. Fui aluna, colega, fui mestra. Fui donzela, mulher e anciã. Fui feroz, fui doce, fui errada, fui plena. Abracei, me perdi, entreguei, morri. Renasci, busquei, me enganei, cresci. Acreditei, andei, parei, fui traída, chorei. Tive, e perdi.
E agora, sentada no final da estrada, olho minhas mãos livres, meu ventre pulsando, meu peito em Luz intensa, e acredito que finalmente, venci. Venci a mim mesma. Venci meus apegos, minhas fraquezas, meus medos e minhas ilusões. 
Não que tenha sido fácil e indolor, mas eu aprendi a abraçar a dor. Eu a compreendi. Aceitei sua linguagem dura, seus enigmas, seus dons. E aos poucos ela se transformou em mel, se espalhou pelo meu corpo, e foi curando as feridas. 
Eu nunca poderia imaginar que ela seria meu néctar sagrado. Era ela o tempo todo, ali, a me cutucar, dizendo o que precisava mudar, e eu passei anos querendo apenas que ela se fosse. Ela não foi, graças a Deusa. Ela ficou, cutucou, doeu, esmagou... até eu aceitar conversar com Amor. Ela apenas queria Amor. O meu Amor.
Quando resolvi olhar minha dor, ela era um mar revolto. Tantas emoções em conflito, tantas frustrações, mágoas, rancores. Mas eu a amei. Amei porque entendi que era nela que estava a parte mais pura de meu ser, meu tesouro escondido. E seguimos. Foram anos a fio.
Hoje cheguei no último ponto da estrada. Sinto as luzes do outro lado do Portal esperando por mim. Sei que será maravilhoso.
Mas me sentei aqui um instante. Havia ainda algo a fazer, porque ainda não conseguia seguir. Não estava pronta.
Fechei os olhos, respirei profundamente e me perguntei "Por que não posso seguir? O que ainda preciso deixar?"
Meu peito começou pulsar mais forte, e meu coração disparou. Fiquei sem ar por alguns instantes, e logo percebi algumas luzes saírem do centro do meu ser. Eram amores.
Amores que cuidei,  que cultivei como sagrados. Corações aos quais me liguei, e criei a expectativa infantil de tê-los para sempre.Se quisesse seguir, eles teriam que ficar. 
Então senti novamente a minha amiga dor. As luzes saíam doendo fininho do coração, e eu as olhava, via os rostos queridos dentro delas, e sentia o peito rasgar. 
Eu via os olhares nos rostos, e sabia que não me viam. Viam algo antigo, uma imagem que deixei para trás há muito tempo, e eram incapazes de me ver. Pensei se eu os via com nitidez, ou se era igualmente equivocada, quem sabe... Mas estavam lá.
Estou aqui sentada, com o peito latejando em dor, cercada pela lembrança de pessoas que amei profundamente, e que hoje não me conhecem mais. Eu preciso seguir.
Mas como, se não sei o que fazer? Algumas já havia me despedido nas curvas da vida, e nem tinha mais notícias delas por muito tempo. Por que estavam aí ainda? E por que doía tanto?
Foi aí que percebi as falhas no meu corpo de Luz. Havia buracos deixados pelas luzes que se soltavam, e eles que causavam tanta dor. Buracos em mim. Vazios.
Respirei várias vezes, entrando em contato com minha essência, como já me acostumei a fazer tão bem. E sorri.
São meus. Meus pedaços. Eu havia liberado as pessoas, me desligado delas, aceitado nossas escolhas e caminhos diferentes. Eu havia seguido, e aprendido a amar o Agora e quem Eu Sou. Mas havia algo que não fiz.
Eu dei poder àquelas pessoas. Eu dei poder àqueles relacionamentos. Em cada um havia uma parte minha que eu havia perdido. Eu descobri outras partes, maravilhosas, desabrochei e cresci. Mas somente poderia atravessar aquele último Portal inteira. E eu não estava inteira. Era por isso que não conseguia seguir.
Parei então com muito Amor, olhei para cada luz. Agradeci por terem cuidado de minhas partes, mas que agora eu precisava delas de volta para seguir em frente. 
Acredito que algumas nem sabiam que carregam algo meu com elas ainda. Outras estavam muito ligadas à energia que eu reinvindicava.
O grande poder que dei a elas foi de me julgar. Eram pessoas que admirava, que respeitava, pessoas que amei, e dei a elas o poder de julgar meus atos e minhas escolhas. Eram minhas referências, meus mestres, meus guias. Alguns com Amor, outros pela dor, mas todos foram meus sinais quando parava para pensar sobre mim mesma. 
Agora eu precisava abandonar meus "Mestres" da vida. O que eles pensavam ou não sobre mim agora não era importante. O que eu pensava sobre seus julgamentos para me compreender e me valorizar não fazia mais sentido.
Então fui ordenando...
"Recebo de volta meu poder de julgar o meu valor como ser."
"Recebo de volta meu poder de julgar os valores que devo seguir."
"Recebo de volta meu poder de julgar o meu coração."
"Recebo de volta meu poder de julgar meu sucesso."
"Recebo de volta meu poder de julgar meus merecimentos."
"Recebo de volta meu poder de julgar como e quando gastar minha energia."
"Recebo de volta meu poder de julgar minha beleza."
"Recebo de volta meu poder de julgar minha alegria."
"Recebo de volta meu poder de julgar com quem devo me compartilhar."
"Recebo de volta meu poder de julgar e encaminhar meus dons."
"Recebo de volta meu poder de julgar a minha sabedoria."
"Recebo de volta meu poder de julgar meu poder."
"Recebo de volta meu poder de julgar quem EU SOU."
"Recebo de volta meu poder de SER quem EU SOU livre de qualquer julgamento."

"E agradeço profundamente o aprendizado que tive com cada uma das suas energias."


Elas então se esvaziaram aos poucos, uma a uma, a energia voltava para mim translúcida e colorida, e uma pequena esfera brilhante se ia, até eu perder de vista.

É por isso que estou sentada então, me despedindo. A cada esfera que se vai, um pedaço meu se refaz. Eu choro, às vezes baixo, às vezes compulsivamente. O retorno da energia faz meu peito vibrar intensamente, fica até difícil respirar.Mas aos pouco me acalmo. 

Quando a última esfera se vai, fico em silêncio. O sol quase se foi e a noite começa a chegar. Vejo a primeira estrela e a Lua Nova me cumprimenta. Eu adoro a noite. 
Olho ao redor, a escuridão me acolhe. Está tudo bem. Finalmente.
Levanto então, solto meu último olhar com lágrimas nos olhos para a paisagem que foi meu mundo há éons, e atravesso o belo Portal Dourado.
"Gratidão!".



Na Montanha Azul

Era para ser incrivel. Era para ser lindo, profundo, intenso, rico... Não digo perfeito, porque já tenho idade para saber nada seria assim. Mas era para ser muito mais do que é.

Quando mergulho na alma, na busca incansável de respostas reais, encontro espelhos turvos voltados para mim mesma. Imagens distorcidas da minha alma, meu sorriso, do meu olhar, todos refletindo com a mesma dureza de um punhal afiado. Tudo, absolutamente tudo, é criação minha.

As ideias absurdas de felicidade plena, as noites incríveis ao luar, os olhares incansáveis dizendo milhões de palavras silenciosas por segundo que poderiam estar cravados em apenas uma frase de Amor. Tudo são criações minhas, tortas, sem nexo, contendo pedaços de realidade, montadas pela minha ingênua ideia de romance. Reflexos de um coração sem rumo, sem voz, sem lugar, nômade no mundo humano, sem reais conexões ou um lugar de outra alma realmente para chamar de lar. Não existe isso de lar no coração de outro alguém. Isso eu aprendi. 

Vaguei em ideias e ideais, entre surtos, choros, êxtases e momentos de profunda paz. Conheci parte do Todo, rodei em círculos procurando desfechos para tantas histórias, e nada era real. Eram somente imagens minhas refletidas pela vida afora, completamente feitas do que não posso controlar. 

Olhando de fora, na montanha azul do meu céu, a dinâmica me parece tão simples que até me ofende... A Luz sai em raios intensos das profundezas da minha alma, alcançando seu ápice no farol do meu coração. Não percebo os desvios do mundo, a contaminação das ideias e valores, não considero pensamentos menores... Eu sigo meu raio com os olhos esperando desesperadoramente pelo que me mostrará. E ele chega. Toca o outro afoito e estranho, talvez até cego ou sedento, e vejo o reflexo apenas de mim mesma e meus anseios, distorcidos pelo caminho, pelo vento, pelas águas turvas do outro ser. Não reconheço nada que retorna a mim, me desespero, me frustro, me calo, me zango, me encolho e silencio. De quem poderia ser a culpa afinal?

Como culpar meu puro raio de amor tão cego pela inocência que carrega? Ou culpar os caminhos, os ventos, as águas, e a sombra que carregam dentro de si? Como exigir do outro que caminha as cegas como eu, por não refletir o que julgava ser eu mesma nele? 

Na montanha azul do meu céu paro atônita, envolvida pelo sentimento de total impotência, e sinto cada parte minha desmoronar. Vão se desfazendo corpos e cores, flores e amores, ideias, canções, poções... escorrem por mim, ou o que sobra do que fui, e se vão na missão de me libertar da minha própria ilusão. Procuro me focar no que sobra, sem me perder no que já não posso mais conter. Não quero conter. Dói segurar o que não pode ser. 

Sinto que sou menos, bem menos do que pensava ser. Não que isso seja necessariamente ruim, ao contrário, não é. É leve. 

Mas mesmo sendo muito mais fácil de ser e sentir, ainda me sinto vazia. Há uma intensidade que não consigo substituir. A leveza aos poucos me incomoda por não me levar às profundezas do meu sentir, e isso começa a me incomodar mais do que pensava. Eu não sou leve. Eu nunca fui leve. Se há algo leve aqui definitivamente não pode ser eu mesma. 

Separando o Eu do Não Eu, tirando da frente as ideias de iluminação engessadas, sinto aos poucos que sou feita de emoções intensas, de extremo frio e calor. Não sou leve, agora é uma constatação. 


Subo as montanhas mais altas na busca de um momento que justifique toda a escalada, sem medo algum. Posso viver anos nadando em mares profundos por um único beijo de amor que contenha a alma pura de alguém que vê o infinito no meu olhar e possa refletir isso no seu no segundo seguinte que pode ser o único. Ultrapasso a tempestade, luto com as sombras, congelo... mas preciso de um abraço tão quente e real que me cure de todas as feridas do caminho. E tudo estará bem.

Mas onde está o caminho? Onde está a estrada? 

Aqui na minha montanha azul, não encontrei nada ao pico, apenas uma música melancólica mas linda que parecia ler minha vida com tons altos e baixos, com harmonia perfeita. Só. 

Não encontrei braços que me abrissem uma nova Luz, olhares que me permitissem mergulhar em um segundo de alegria silenciosa, não encontrei calor. Apenas eu mesma e minha música. Minha história. 

Aos quatro cantos o grande mistério se formava e me envolvia, e ali era o fim. Respirei o mais profundo que pude, e aceitei. Parecia um tanto justo que terminasse como começou... um suspiro. 

Mesmo sabendo que tudo que vejo daqui é agora ilusão dos meus sentidos refletidos em tudo que toquei, me dei meu luto. Era irreal, mas era meu. Era eu de alguma forma, distorcida mas forte.

Aos poucos a neblina tomou conta de todo vale ao redor, e a música se tornou mais doce. Eu me sentei, e desisti. Não valia mais andar, pensar, desejar ou simplesmente olhar. Do que é feita a realidade então? 

Fiquei ali, juntando os pedaços por mim desconhecidos, e me abrindo para algo que não posso imaginar. Percebi que desta forma não crio, não projeto, não se reflete, não se distorce, não dói. Apenas é.

Mas ainda estou só. Isso ainda não consegui resolver. Vou me focar na música, talvez até a montanha em algum momento se dissolva, e eu possa caminhar em solo fértil novamente na próxima manhã de sol.

Quem sabe.  









terça-feira, 16 de abril de 2019

Trajetória de uma existência

Trajetória da existência...
Uma estória.

Você passa a vida procurando estar certo. Erra muito na estrada, acerta pouco e vai pegando o jeito.
Com o tempo sente que está começando a ter mais controle sobre como tudo funciona, está acertando!!! . Aí mudam as regras. Novas épocas, novas idéias, novas fases. Nova energia.
E lá se vai sua certeza. Tudo do zero. De novo.
E passando os ciclos, os anos, as fases, aos poucos você nem pensa mais em estar certo.
Você estudou muito sobre isso e achou algo melhor.
Você quer ter paz, saúde, conseguir dormir com o coração tranquilo... Mesmo que isso te faça deixar pra lá algumas coisas.
A dor de estar sempre certo e lutar por isso cansa muito, se recuperar dela desgasta demais,  então você passa a evita-la como estratégia sábia.
Afinal... Não sentir dor é ser feliz.
Você não fala, não discute, aceita e fica feliz no seu silêncio acolhedor. E segue confiante que está bem. No início é empolgante e todas as portas que antes se fechavam pra vc, se abrem. As pessoas gostam de vc. É lindo!
E vc segue. Deve ser por causa da idade, aos poucos não fica tudo tão bom como antes. Tudo bem. Vc também aceita.
Mas um dia, sem preparação alguma, te surge um tumor, cisto, um mioma. Ou uma doença autoimune qualquer, destas sem diagnóstico conclusivo, com tratamentos experimentais e muita incerteza no processo. Ou uma tristeza profunda e sem razão...
E nada mais faz sentido. Você deixou de estar certo, aceitou tudo e todos, disse sim, se doou... Evitou bravamente os "conflitos desnecessários" e as dores que eles trazem. As pessoas te amam e são gratas a você.
E agora está doente, e sente a tal dor. 
Neste momento uma enorme encruzilhada se faz presente a sua frente.
Uma te diz que tudo o que aprendeu sobre certo e errado não serviu pra absolutamente nada e foi tudo uma grande perda de tempo querer ser alguém correto e "do Bem". Esta estrada faz uma curva imensa e parece que vai exatamente para trás, enorme e clara, sem obstáculo algum, te deixa seguir sem hesitar ou questionar, apenas te deixa seguir na sua dor incurável sem se preocupar mais com o destino.
A outra porém é obscura e cheia de curvas, sombras e terreno instável. Mas ela vai para frente, continua.
O que chama a atenção é que é estreita o bastante para caber apenas você. Você precisa seguir só, e o primeiro obstáculo é justamente um espelho.
Se for curioso o bastante, se voltar para onde já esteve não te agrada, se confia no que acreditou até aqui... Vc encara o espelho.
Sua imagem mostra as marcas profundas por todo seu corpo. Muitos "nãos" engolidos, muitos "sim" auto impostos. Sonhos que já passaram da validade de nascer sendo atrofiados em seu ventre. A cabeça lotada de tantas informações sobre tudo, menos você mesmo. É devastador.
E você pensa..  "Eu só queria ser Bom. Eu só queria ajudar e viver em paz."
Algo dentro de vc ecoa, então, e te surpreende. Algo que não ouvia há muito tempo... E te pede pra chorar. Chorar suas dores, suas perdas, sem culpar nada ou alguém... Apenas para chorar e libertar... E você chora.
Seu choro tão sentindo começa a clarear a estrada, e aos poucos vc sente confiança em seguir, devagar.
Quando pensa se deveria pisar aqui ou ali, se liberta da velha necessidade de estar certo e segue seu coração, enfrentando decisões ótimas e outras nem tanto. Aos poucos a estrada se alarga e outras pessoas passam a seguir com vc. Com algumas vc quer estar, outras não... E vc desiste de dizer apenas sim..  em alguns lugares é melhor passar só, e vc faz questão disso. Suas dores vão melhorando, e vc escolhe tudo que lhe parece mais saudável a si mesmo, afinal... está doente! Em alguns momentos tem o prazer em dar as mãos, e é bom. Pessoas pedem que vc pare e as espere, que siga no ritmo delas,  e vc sabe que precisa seguir e se despede. Elas ficarão bem, mesmo que não sintam isso agora.
Em um dado momento a lama deixa seus pés lentos, vc quer seguir rápido como outros ao seu lado. Pensa em pedir que te esperem, ou te ajudem , tem medo... Mas elas seguem.  Elas podem seguir. Vc vai seguir como pode. Você pode.
E se levanta, com muito esforço, se desvencilha da lama, e aos passos lentos, depois de muito lutar... Começa a seguir novamente.
Triunfo.
Está exausto, sujo e dolorido... Mas pronto pra seguir com seus pés.
Depois deste episódio suas dores diminuem até sumirem de vez.
O trajeto se torna fácil, claro e prazeroso.
Você finalmente está feliz.  E pela primeira vez pensa realmente sobre para onde está indo.
Em todo este caminho tão longo pensou apenas em seguir, continuar, não cair, não parar. Mas agora pela primeira vez, vc diminui o ritmo de seus passos e olha detalhadamente a paisagem e o horizonte.
O lugar é lindo, agradável. Há água, plantas, frutos. Nada falta.
E pela primeira vez na vida vc se pergunta " por que quero seguir?". "Para quê?"
E num ato de inspiração sem razão alguma, decide ficar ali. Criar ali um novo mundo. O seu mundo. Que seja só, não importa. Vc está feliz.
E quando começa a andar ao redor, buscando inspiração e material para criar seu momento de totalidade e alegria... O milagre acontece.
Você não está só.
Todas as pessoas que passaram por vc e não pararam pra te ajudar, ou não diminuíram seus passos pra que vc as acompanhasse...  estão ali! No mesmo lugar.
E pela primeira vez vc conhece a felicidade de ser e compartilhar com autenticidade e consciência.
Todos têm seus mundos interconectados pela simples alegria do ser.
Ninguém pede nada, ou precisa do outro, ninguém depende. É um mar inteiro de seres mestres e completos.
E sentem que o universo continua girando e os leva junto sem que se sacrifiquem ou sofram, sem que andem sem tréguas pra lugar algum.
Se tocam, trocam energia, se amam, e amam a todos.
E nesta primeira noite, quando todos forem dormir, vc sentirá seu coração transbordante, e agradecerá todos os seus passos. Sua mania de estar certo, a ideia de dizer sempre sim, e aquela doença tão séria, aquele momento dilacerante que te fez escolher em desespero, diante daquela encruzilhada especial. Sem ela vc estaria até hoje dizendo "Sim" e engolindo seus "nãos"  numa estrada sem fim.
Todos seus passos foram sagrados. Nenhum poderia ser pulado ou evitado sem te afastar do seu destino.
Vc olhou pra si, pro mundo, pra dentro... E se encontrou.
Bendito livre arbítrio.
E fechando os olhos sorrirá levemente, esperando o novo dia nascer.
Em paz.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Pausa

Eu fiquei calada.
Saí de cena da minha constante caminhada, e me permiti vagar
Fiquei vagando no mundo de fora, no mundo do agora, plena de mim.
Pedi um tempo. Um pausa, uma pausa com fim.
Eu pensei que saindo da minha história já tão desgastada, da dor, das minhas questões não respondidas,
Deixando de lado os infinitos fatos não resolvidos,
eu teria um pouco de Paz para respirar, antes de retornar.
Eu pensei que saindo de mim eu me esqueceria um pouco, e comigo iriam meus desassossegos ao vento.
Eu pensei que olhando para fora, daria menos importância ao que não veio,
e meu conceito pessoal seria renovado em instantes.
De certo é bom para a alma este ir e vir, o inspirar e expirar da vida,
estar a rodar sem saída, aceitar o fluxo e se largar...
É bom porque ensina e nutre.
Porque abre, porque amplia, porque faz transformar.
Ensina que a parte mais sombria da sua alma pode ser ainda mais bela que a ignorância externa,
na busca eterna do que está sempre perdido.
Ensina que o valor da Paz está principalmente onde ela não existe o tempo todo,
mas onde é algo querido, e almejada a cada respirar.
Ensina que você cresceu muito mesmo entre dúvidas, mas precisava se ausentar para saber
Mostra como estar buscando novos "Eus", sempre melhores e mais conscientes,
fez crescer,
mas não te deixou perceber,
como já atingiu tanto do que queria encontrar.
Ensina que voltar para casa, é realmente, voltar para dentro,
afinal não há lugar como a própria alma a te abraçar.
Nutre suas células de você mesma, nutre seu coração das vontades que sente
e não executa jamais.
Nutre teu desejo de finalmente,
existir com verdade, com vontade, com liberdade,
e alimentar sem medo, a semente,
que  contem tudo que é...
e libertar o que não é mais.
Eu fiquei calada.
Vi o mundo, ouvi gente, dormi mais, comi mais, fiz menos, eu acho.
Olhei muito ao redor e adiante, evitei dentro, orbitei em volta.
Disse coisas, fiz coisas, desfiz...
E depois desta enorme tentativa de ser feliz, eu voltei.
surpresa eu me olhei... estava exausta.
Já não via a hora de mergulhar no espelho, de me misturar com meu escuro novamente
Ja não via a hora de sentir meu ar, pesado ou não, mas meu, apenas e completamente meu.
Estava apertado quando saí, mas agora me sinto no infinito.
Boa esta história de sair.
Acho que o mundo expande na sua ausência. Ou sua visão sobre ele escancara enquanto não ficou controlando.
Não importa.
O que importa é que voltei, e minha alma voltou a falar.
Está saudosa de afeto, está querendo criar.
Está vibrando, poderosa, do tempo que ficou a meditar.
E eu, agradecida, apenas me largo, me deixo levar...
Por esta correnteza imensa que é meu sentir,
Vou vagando, vendo fluir...


Feliz, vou recompensar.